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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Nação rubro-negra também grita hexa em russo e ucraniano



Fabricio Yuri
Rio de Janeiro

Se dentro de um país existem vários sotaques, dentro da nação rubro-negra existem várias línguas. No rol de idiomas da 'Nação', também há espaço para o russo e o ucraniano. Pavel Sentiakov, um especialista em segurança de 43 anos que mora em Kamensk, no interior da Rússia; e Dimitri Titor, de 30, procurador-geral em Kiev, capital da Ucrânia, provam que a distância não é nada para uma paixão. Mostram, com orgulho, seu amor para o Flamengo ao mundo todo. Juntos, eles criaram o site 'Flamengo-rus' (http://www.flamengo-rus.ru/) e não deixam nenhum geraldino para trás no que diz respeito ao carinho pelo seu time. "Torço para um dos maiores times do mundo", diz Titor, enquanto Sentiakov vai mais além: "Quero o Carioca, o Brasileirão e a Libertadores".

E se você acha que ambos começaram a torcer pelo mais querido do Brasil por conta do hexacampeonato, está enganado. A história do ucraniano Titor começa lá no início dos anos 90, quando assistiu a um especial sobre Zico, que contava desde suas glórias no clube carioca até sua contribuição para o desenvolvimento do futebol no Japão. Mas, com toda a dificuldade de obter informações naquela época, só com a popularização das TVs por cabo e satélite, no final dos anos 90, que Titor começou mesmo a acompanhar os jogos de seu time.

- Desde 1993 eu sou Flamengo. E depois, quando pude começar a assistir aos jogos, a ver a torcida lotando o Maracanã, eu realmente percebi que não poderia torcer para nenhum outro clube. Desde então meu coração é rubro-negro e assim será para sempre - diz, orgulhoso, ao GLOBOESPORTE.COM.

Por sua vez, Sentiakov era, como muitos outros pelo mundo, um fã do Santos de Pelé. Sua paixão começou ainda na escola, quando leu seu primeiro livro sobre futebol brasileiro: "Pelé, Garrincha, Futebol...". Mas toda essa fascinação pelo clube paulista acabou caindo por terra. O russo fora arrebatado pelo mesmo Flamengo de Zico, ainda na mesma época de Titor.

- Eu sempre tive uma queda pelo Flamengo. Nele jogaram lendários como Zico, Leonardo, Júnior. Não teve jeito: acabei me tornando um autêntico carioca flamenguista - , derrete-se o russo.

Embora compartilhando da mesma paixão, ambos só foram se conhecer pela internet, em 2005, quando Pavel Sentiakov colocou no ar o site Torcida.com.ru (http://www.torcida.com.ru/), que fala somente sobre futebol brasileiro. Tudo em russo, lógico. Com o nick "Carioca", Dimitri Titor se tornou um dos frequentadores mais assíduos da página e surpreendeu Sentiakov com seu conhecimento sobre nossos campeonatos e jogadores. Em 2009, enfim, entra no ar o Flamengo-rus - com todas as notícias, história, elenco, fotos e tudo que você pode imaginar sobre o Fla.

- Imagina só: no ano que colocamos o site no ar, o nosso time se torna campeão brasileiro, após 17 anos... Isso é fantástico!" - orgulha-se Sentiakov, que acredita ter dado uma mãozinha de sorte para o título rubro-negro.

Mas aí você pensa logo que os dois não são torcedores mesmo, daqueles que sofrem com o time. E se engana feio. Ambos fazem questão de mostrar ao mundo inteiro a alegria de ser rubro-negro: assistem a todos os jogos do Flamengo - seja pela TV ou pela internet - usando o manto sagrado, torcendo, gritando e sofrendo com o time. E, eventualmente, dando aquela xingadinha também. Depois da partida, todo mundo para a internet, saber das notícias, ver os detalhes - tudo com ajuda de programas tradutores - para depois escrever em seus sites.

- Graças ao torcida.com.ru e ao flamengo-rus.ru, os russos e ucranianos vão sabendo cada dia mais sobre o futebol do Brasil. Nós somos o primeiro site em russo sobre os campeonatos estaduais e nacionais do Brasil. E, depois que as TVs começaram a passar os jogos daí, o interessse cresce cada dia mais - explica o rubro-negro Titor.

Dimitri e Pavel, no entanto, não são dois solitários: em seus sites, centenas de 'bolel'shiki' - torcedores, em russo - aparecem para comentar e, lógico, torcer. Tudo no mais claro russo. Ainda são poucos, se comparado com a atração que o bilionário futebol do Velho Continente exerce sobre o Leste Europeu, mas já é um número significante. Sentiakov - que torce abertamente pela seleção brasileira e é acusado pelos amigos de não ser patriota - nem assiste ao futebol de seu país:
- É, não acompanho mesmo. Gosto de ver futebol, torço pelo futebol bonito. Por isso acompanho o futebol brasileiro.

Nomes como Sócrates, Zico, Júnior, Andrade, Renato Augusto, Ibson, Romário e tantos outros são frequentes nas histórias que Dimitri e Pavel contam em seus países.

- Não faz muito tempo, fiquei muito feliz quando uma lenda do jornalismo esportivo soviético, autor de alguns livros sobre o futebol brasileiro, Igor Fesunenko, me escreveu. Ele viveu muitos anos na América do Sul e conheceu Pelé, João Saldanha e tantos outros. E agora é meu amigo e colaborador do site torcida.com.ru. Trocamos muitas histórias interessantes. Aprendemos a conhecer e amar o futebol brasileiro. Nós somos os melhores do mundo - brinca Pavel, sendo que o "nós" aí quer dizer futebol brasileiro, onde ele, naturalmente, se inclui.

- Certa vez, os colegas de trabalho me convidaram para jogar futebol com eles. Então, botei a camisa do Flamengo e, ao entrar em campo, todos me perguntaram "que time é esse?". Aí eu expliquei "É o Flamengo, onde jogaram ídolos como Romário e Bebeto. E essa é a 10 com a qual jogou Zico, que era como um Pelé branco". Aí então os colegas brincaram comigo: "Então, Zico, mostra aí do que você é capaz". Eu fiz um golaço e dei o passe para outro. Depois do jogo, um senhor veio e disse: "Parabéns, Zico. Golaço". Essa camisa joga sozinha!

Ah, e eles não podiam deixar de comemorar o hexa rubro-negro. E mandar seus recados para seus compatriotas, que, segundo os próprios, deveriam abandonar seus passaportes e trocar por um "rubro-negro".

- Gostaria de parabenizar toda a nação rubro-negra pela vitória, pelo hexacampeonato. E não devemos parar por aí. Vamos continuar nossa sequência de vitórias na Taça Libertadores. Espero, num futuro próximo, visitar o Rio, meu amado Flamengo, e torcer junto com vocês no Maracanã - diz o animado Titor, que não deixa fora de seu vocabulário palavras como "rubro-negro", "Mengo" e "Nação", escritas assim mesmo, em português.

E seu parceiro de ataque, Sentiakov, chama para si a responsabilidade de fechar com chave de ouro:

- Falo em nome de todos os torcedores russos: parabenizo os treinadores, jogadores e diretoria do nosso Flamengo, pela conquista desses tão esperado título. Que ninguém se machuque e, desta forma, consiga trazer novas vitórias a essa torcida maravilhosa. Mesmo a milhares de quilômetros, vou torcer cada dia mais pelo Flamengo. E que cada jogador saiba: ele tem torcedores até na Rússia - brinca.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Times/Flamengo/0,,MUL1413829-9865,00.html

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